Pedro é um rapaz de 15 anos bastante introvertido.
Desde que se lembra, sofre com suas mãos suando em excesso. Fazer uma prova na escola é um grande problema; tem que sempre ter uma toalha sobre as pernas, mas não raras vezes o papel desmancha ou rasga. Cumprimentar algum amigo ou uma garota? Não, obrigado! Devido a vergonha pelas mãos, acabava se isolando no mundo virtual…

 

Provavelmente você, leitor, conhece ou já ouviu falar de alguém com essa condição. Felizmente, a hiperidrose tem tratamento. Vamos saber mais!

 

O que é a Hiperidrose?

Caracteriza-se por sudorese excessiva, além da requerida para as necessidades termorreguladoras do organismo.

Hiperidrose Primária x Secundária

Podemos ter hiperidrose secundária a alguma condição clínica específica ou medicação, necessitando, portanto, uma investigação mais aprofundada com a devida intervenção médica. Contudo, boa parte das vezes estamos diante de um caso idiopático, no qual não se conhece exatamente o mecanismo que o determina, admitindo-se que haja estimulação do sistema nervoso simpático em nível central nesses pacientes. A hiperidrose primária, usualmente afeta áreas como axila, mãos e pés, podendo atingir também a região craniofacial e inguinal.

Impactos no dia a dia.

É normal suar quando se está calor, durante a prática de atividades físicas ou em certas situações específicas, como, momentos de raiva, nervosismo ou medo. Porém, a sudorese excessiva ocorre mesmo sem a presença de qualquer desses fatores.

Quando há transpiração extrema, essa pode ser embaraçosa, desconfortável, indutora de ansiedade e se tornar incapacitante. Pode perturbar todos os aspectos da vida de uma pessoa, desde a escolha da carreira e atividades recreativas até relacionamentos, bem-estar emocional e autoestima, como ocorreu com nosso amigo Pedro.

Tratamentos

Existem diversos métodos para o tratamento. A melhor opção para cada paciente deve ser individualizada e decidida em conjunto com o médico assistente.

Depende muito, também, da localização da hiperidrose. Atualmente contamos com alternativas de tratamento tópico (antitranspirantes mais potentes, Botox, Iontoforese) e sistêmicos, sendo a oxibutinina a droga mais conhecida.

O único tratamento definitivo, contudo, é a Simpatectomia Torácica, atualmente feita por videotoracoscopia. O cirurgião torácico realizada 2 (duas) incisões de 1 centímetro no máximo, em cada lado do tórax. Após as incisões é colocada o toracoscópio adaptado a uma microcâmera de alta resolução, sendo o primeiro passo do cirurgião identificar a cadeia simpática torácica com seu tronco principal e todo o seu conjunto de gânglios. Após esse reconhecimento inicial, o cirurgião realizará a secção ou clipagem do nervo e suas ramificações

de acordo com o local ou locais que o paciente apresenta o suor em excesso. Com essa secção do nervo, o corpo interrompe a mensagem enviada e o suor em excesso nas regiões afetadas é cessado.

Pós-Operatório

Normalmente o paciente recebe alta no outro dia e os demais que seguem são bem tranquilos.

Considerações Finais

No passado, muitos pacientes tiveram suas queixas menosprezadas. Alguns colegas os tratavam como psicossomatização, encaminhando-os para terapia. Sabemos do papel importante no acompanhamento multidisciplinar dos pacientes e ficamos feliz de participar de forma satisfatória desse processo.

Hoje a medicina pode ajudar, com bastante segurança, aqueles que sofrem com a hiperidrose, impactando, sobretudo, no ganho de autoestima e confiança.

 

 

Referências:

1. Hornberger J, Grimes K, Naumann M, et al. Recognition, diagnosis, and treatment of primary focal hyperhidrosis. J Am Acad Dermatol 2004; 51:274.

2. Rzany, B., Bechara, F. G., Feise, K., Heckmann, M., Rapprich, S., & Wörle, B. (2018). Update of the S1 guidelines on the definition and treatment of primary hyperhidrosis. JDDG – Journal of the German Society of Dermatology, 16(7), 945–953.

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